Cascavel, 14 de junho de 2025
Desde que eu comecei a escrever aqui, meus textos têm assumido um caráter cada vez mais pessoal, como um diário mesmo. E não que eu não goste disso, jamais, é a minha forma de vomitar aquilo que me entala, bom ou mau. Entretanto, sinto falta de viajar um pouco e de por pra fora um pouco da fantasias que crio.
Então, hoje, a carta da vez será um conto, uma história, uma fantasia. O que você quiser chamar. Espero que goste.
Ando pelas ruas como quem espera esbarrar em alguém. Com a esperança vã de se fazer notar em meio ao turbilhão. Gente apressada, ocupada demais para se importar com as minhas besteiras. Sigo em passos lentos, sentindo o ar frio do inverno bater em meu rosto. Finalmente, paro para olhar para cima.
Azul. Límpido. Revigorante.
É quando noto um casal do outro lado da rua se encontrar. O abraço acalorado, contrastando drasticamente com o frio que faz aqui fora, chama minha atenção. O homem embala o rosto da mulher com as mãos, na esperança de aquecê-la. Me pego imaginando como tudo começou entre eles.
Penso se eles não se conheceram por acaso, se esbarrando por aí. Se a troca de olhares não foi suficiente para fazer o tempo parar, para fazer com que as coisas mais ilógicas tivessem, enfim, sentido.
Imagino se ele tomou a iniciativa. Se perguntou a ela qual era o seu nome, se vinha sempre ali, e o que achava ser o amor. Se ela respondeu de imediato ou se hesitou, vencida pela insegurança de se permitir sentir.
Observo o carinho com que ele a olha, o sorriso genuíno que ela dá — como se ele fosse o seu mundo, e isso bastasse. Como se os dois fizessem sentido. Olho novamente para o céu. Parece ter sido feito para esse momento. Gosto de pensar no efeito borboleta da vida, em como uma troca de olhares pode mudar tudo. Como deve ter mudado tudo para eles.
Decido continuar meu caminho, devagar, respirando, sentindo o sol no meu rosto. Fecho os olhos. Um segundo. Alguém esbarra em mim. Nossos olhares se encontram. Tudo muda.